• Um novo projeto de lei quer colocar mais veneno na nossa comida

    No dia 25 de junho, segunda-feira, a comissão especial da Câmara aprovou uma PL que flexibiliza a atual Lei dos Agrotóxicos. A mudança prevê que os agrotóxicos podem ser liberados pelo Ministério da Agricultura mesmo quando órgãos reguladores, como Ibama e Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), não tenham concluído suas análises. Entenda como essa mudança na lei pode afetar a sua saúde.

     

    Ainda não há data para que o texto siga para a votação do plenário da Câmara. Enquanto a bancada ruralista e produtores de químicos são à favor da PL, alegando que há muita demora e burocracia na liberação dos agrotóxicos, a oposição, formada por órgãos como Anvisa, Ibama, Fiocruz, Instituto Nacional do Câncer (Inca) e o Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea), afirma que a mudança reduz os níveis de segurança para o consumidor.

     

    Enquanto isso, nós estamos no meio do fogo cruzado. A Sabor Caseiro é terminantemente contra a aprovação desta mudança na lei que visa liberar novos produtos sem a necessária análise pelos orgãos competentes, assim como o lucro das empresas produtoras de agrotóxicos.

     

    Somos o país que mais consome agrotóxicos no mundo

     

    No Brasil, são autorizados 504 tipos de agrotóxicos. Desses, pelo menos um terço é proibido na União Europeia. Ainda, dos dez mais vendidos aqui no Brasil, dois são proibidos no continente europeu. Outros agrotóxicos previamente proibidos podem voltar a ser utilizados se a mudança na lei for aprovada pelo governo, pois ela também prevê um registro temporário de 30 dias, mesmo que estudos não tenham sido concluídos pelos órgãos de controle.

     

    Os riscos para a nossa saúde

     

    Os nove agrotóxicos já proibidos pela Anvisa possuem potencial cancerígeno, desregulam hormônios, podem causar mutações e danos ao aparelho reprodutor. Confira outros malefícios causados por esses químicos ao nosso corpo, segundo estudos feitos pela Anvisa:

     

    • Endosullfam - tóxica ao sistema neurológico, ao sistema imune, à reprodução e desregula hormônios;
    • Cihexatina - pode causar problemas de visão, tóxica à reprodução e ao desenvolvimento;
    • Tricloform - tóxica para genes, sistema neurológico e sistema imune;
    • Monocrotofós - ausência de dossiê toxicológico que sustente o seu registro;
    • Pentaclorofenol - tóxica ao fígado, rins, desregula hormônios e fica tempo demais no meio ambiente;
    • Lindano - potencial cancerígeno, tóxica ao fígado, rins e fica tempo demais no meio ambiente;
    • Metamidofós - tóxica ao sistema imune, sistema neurológico, à reprodução e desregula hormônios;
    • Parationa Metílica - tóxica ao sistema imune, sistema neurológico, desregula hormônios, pode causar mutações;
    • Procrolaz - provoca distúrbios hormonais e danos ao aparelho reprodutor.

     

    Posicionamento da Sabor Caseiro

     

    Nas palavras do seu Diretor, Aloísio Perdomini, a Sabor Caseiro se posiciona contrária ao novo projeto de lei que abre as portas para a liberação de mais agrotóxicos.

     

    “O cenário é muito claro para mim. Essa mudança beneficia somente as grandes empresas produtoras de agrotóxicos. Elas já lucram muito com esse negócio, e agora vão lucrar mais ainda. Nem o produtor rural vai lucrar, porque o que ele gasta com agrotóxicos é um absurdo. Ele gasta cada vez mais mais do que arrecada, essa conta não fecha bate, não é sustentável ”. Ele completa explicando que os agrotóxicos possuem um prazo de validade, devido ao mau uso, já que as pragas vão criando resistência ao veneno. Logo, as empresas produzem um novo veneno de nova geração com o dobro do preço, e é aí onde os agricultores acabam se endividando. Se não usar o novo não consegue mais produzir neste modelo. É um ciclo vicioso. e sendo obrigados a acelerarem o processo de plantação e colheita.

     

    Aloísio afirma que a produção agrícola no país entrou em um ciclo vicioso e que está cada vez mais difícil de sair. Se a nova PL for aprovada, a situação ficará ainda mais grave. “Um dia disseram para o agricultor que se ele usasse tal veneno conseguiria plantar mais rápido. Só que esse veneno custa caro, e assim o produtor vai se endividando, precisa produzir mais, usa mais veneno, e essa conta nunca bate. O gasto com veneno é similar ao que se tem com a adubação. Não é um custo desprezível, até porque antigamente tu não tinha”.

     

    “No uso de agrotóxicos, o Brasil é um péssimo exemplo. É o maior consumidor do mundo, sem ter este destaque em produção, ou seja, usa mal. em contrapartida um dos menores produtores. O que eles querem agora é abrir as portas para a entrada de mais agrotóxicos, inclusive aqueles que já são proibidos na Europa. As empresas produzem toneladas lá, daí o produto é proibido. Para onde tu acha que eles vão, para o lixo? Claro que não, eles vêm para cá. As empresas não vão perder o lucro. Quando acaba esse estoque de anos de consumo, aí a proibição entra para nós também”.

     

    Em 2015, o mercado global de agrotóxicos lucrou U$ 54,6 bilhões!

     

    “A não ser para a soja que realmente é muito difícil de plantar, o veneno não é necessário para agricultura, e isso as pessoas não percebem, se tornou um vício. É que cuidar de uma lavoura demanda muito esforço, muitas pessoas, trabalho constante. Tu acha que o grande agricultor do interior está diariamente lá no campo? Ele vem pra cidade grande, ele nem aparece lá. De casa ele tem o celular e decide pelo aplicativo o que vai fazer. Ele decide de longe a hora que o avião vai passar com o veneno e ponto final”.

     

    Fora os problemas citados acima que os agrotóxicos causam à nossa saúde, eles também causam graves danos ao meio ambiente. Com o tempo, a produção agrícola vai se tornando cada vez mais dependente de insumos artificiais, pela morte do solo. difícil devido à contaminação e poluição do solo. Além disso, a própria água também acaba sendo contaminada, um problema muito subestimado no Brasil.

     

    O uso de insumos químicosagrotóxicos revolucionou a agricultura. Hoje temos tecnologia suficiente para que os alimentos sejam produzidos em larga escala e cheguem com um preço bem mais baixo a nós, o consumidor final. No entanto, o “custo real” que se paga é muito alto. Estamos silenciosamente sendo envenenados, e o meio ambiente também está sofrendo com o uso excessivo desses venenos agrícolas, num modelo nada sustentável, que precisa ser subsidiado pelo governo.

     

    A PL ainda não foi aprovada e você também pode se posicionar contra. Acesse a petição online contra os agrotóxicos e ajude a garantir um alimento de qualidade para a mesa do consumidor brasileiro.

     

    Fontes: BBC, G1, Terra, Sindiveg